Tarifaço de Trump surpreende e aumenta incertezas para o investidor brasileiro

Por Luiz Fleury

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O anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, acendeu um alerta imediato no mercado financeiro. A sobretaxa, a mais alta entre as aplicadas até agora na nova ofensiva tarifária dos EUA contra 22 países, veio acompanhada de uma carta enviada ao presidente Lula com críticas diretas ao STF e menções ao ex-presidente Jair Bolsonaro, revelando um claro viés geopolítico por trás da decisão.

A reação dos mercados não demorou: Ibovespa futuro caiu 2,44% e o dólar futuro para agosto bateu R$ 5,63. O impacto direto recai sobre empresas exportadoras, especialmente do agronegócio e frigoríficos, além de companhias com exposição ao dólar. O investidor já começa a precificar a pressão inflacionária que um câmbio mais alto pode trazer, com reflexos no custo dos combustíveis, alimentos e logística. O aumento da volatilidade também pressiona os juros futuros e pode travar parte do apetite por risco no curto prazo.

Apesar do anúncio oficial, ainda não há certeza se a medida será de fato aplicada — o histórico de idas e vindas de Trump em relação a tarifas comerciais reforça a percepção de que pode se tratar de uma jogada estratégica.

Ainda assim, os riscos são reais e tangíveis. Diversas companhias brasileiras de capital aberto com atuação relevante nos EUA entraram no radar dos analistas por conta da exposição direta à nova alíquota. A Embraer lidera a lista de empresas potencialmente mais afetadas: cerca de 23,8% de suas receitas vêm das exportações para os EUA, principalmente de peças da aviação executiva.

Segundo relatório da XP, um aumento de 10 pontos percentuais nas tarifas pode reduzir em até 15% o lucro da companhia. Já o UBS BB estima que a cada 10% adicionais nas tarifas, os custos da Embraer subam em US$ 70 milhões, com destaque para o impacto nos jatos Phenom e Praetor, montados em solo americano.

Outras empresas com exposição expressiva incluem WEG, Suzano, Tupy, Mahle Metal Leve, Iochpe-Maxion, Randoncorp, Jalles Machado, Frasle Mobility e Alpargatas. No caso da Suzano, 19% das vendas líquidas vêm dos EUA, e redirecionar esse volume exigiria grande esforço logístico, com riscos de queda de preços. Para a Tupy, por exemplo, 13% da receita total está exposta à tarifa, uma fatia considerável que pode comprometer a competitividade. Mesmo empresas com produção diversificada, como a WEG, podem sentir os efeitos, embora sua capacidade de transferir parte da produção para unidades no México ou nos próprios EUA ofereça alguma proteção.

No varejo, Azzas 2154 (ex-Arezzo&Co) e Alpargatas também entram no radar, com 3% e 4% da receita, respectivamente, vindos das exportações para os EUA. O Citi estima um impacto de até 7% no lucro da Azzas em 2026, caso a tarifa se mantenha.

Enquanto isso, a possível retaliação comercial por parte do Brasil pode afetar cadeias cruzadas. Setores como o automotivo e de bens de capital também enfrentam o risco de encarecimento de insumos importados dos EUA. Por outro lado, empresas como a Braskem podem se beneficiar, caso a importação de produtos químicos e derivados americanos seja restringida e aumente a demanda interna.

Apesar de analistas considerarem que o impacto macroeconômico pode ser limitado no curto prazo, o efeito sobre setores industriais e de materiais básicos é evidente — com pressão sobre exportações, resultados financeiros e decisões de investimento.

"Independentemente da efetivação, o simples anúncio da tarifa já altera de forma significativa a percepção de risco e intensifica a volatilidade, uma dinâmica que tende a se consolidar no ambiente global. A tarifa de 50% representa um choque exógeno relevante, com potencial de impactar o PIB em 0,3% a 1,2%, atingindo de forma desproporcional os setores brasileiros com exposição ao mercado norte-americano. Ao mesmo tempo, acelera a tendência de friend-shoring e near-shoring, em que países passam a priorizar resiliência estratégica e segurança de fornecimento, mesmo diante de custos adicionais e maior pressão inflacionária global. Para empresas bem posicionadas, com liquidez robusta, baixa alavancagem e capacidade de adaptação, esse cenário cria oportunidades concretas de reconfiguração de portfólio e M&A estratégico. Transformar volatilidade em vantagem competitiva passa a ser um diferencial fundamental para capturar valor em um ciclo global cada vez mais fragmentado e dinâmico. Mais do que proteger, este é o momento de repensar a estratégia, antecipar movimentos e consolidar uma posição competitiva de longo prazo”, destaca Luiz Fleury, Líder da área de Corporate Finance & Restructuring da HLB Brasil.

 

Fonte: com informações do Valor Econômico.




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