Tarifa de 50% imposta por Trump ao Brasil: impacto imediato no comércio, nas indústrias e no cenário político
Por HLB Brasil
O anúncio feito nesta quarta-feira (9 de julho) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, provocou uma onda de reações em diversos setores da economia e da política brasileira, e também do mercado financeiro.
A sobretaxa é a mais alta entre as aplicadas até agora pelo governo americano em sua nova ofensiva tarifária contra 22 países, e tem um claro viés geopolítico: a carta enviada por Trump ao presidente Lula menciona o ex-presidente Jair Bolsonaro e critica a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
O que está em jogo?
Segundo Trump, a medida é uma resposta a uma suposta relação comercial “injusta” e a alegadas “práticas desleais” do Brasil, incluindo ataques às big techs americanas e desequilíbrios no comércio bilateral. No entanto, dados oficiais brasileiros desmentem esse argumento: o Brasil acumula déficits comerciais com os EUA desde 2009, com saldo negativo de US$ 90,28 bilhões até junho de 2025.
Além disso, Trump afirmou que as tarifas podem ser suspensas caso empresas brasileiras passem a produzir dentro do território americano, o que foi interpretado como uma tentativa de coação econômica.
Impacto setorial da tarifa
A tarifa de 50% deverá afetar fortemente setores estratégicos da economia brasileira, especialmente aqueles ligados à produção de petróleo, ferro, aço e aeronaves. A seguir, a participação percentual dos principais setores na base tarifária, em termos de impacto econômico, considerando o total de produtos brasileiros exportados para os EUA, segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, feito pelo Poder360:
- 18,3% do impacto recairá sobre petróleo e derivados (US$ 7,5 bilhões)
- 13,2% sobre ferro ou aço bruto e produtos semi-acabados (US$ 5,3 bilhões)
- 6,7% sobre aeronaves e outros equipamentos (US$ 2,7 bilhões)
- 4,7% sobre café não torrado (US$ 1,9 bilhão)
- 4,1% sobre celulose (US$ 1,7 bilhão)
- 53,0% correspondem a outros produtos (US$ 21,3 bilhões)
Esse impacto evidencia o quanto os setores de base e commodities, além da indústria aeronáutica, estão expostos às medidas, com potencial efeito direto sobre empregos, investimentos e receita.
Reação imediata dos mercados
O impacto no mercado financeiro foi quase instantâneo:
- Ibovespa Futuro (INDQ25): -2,44%, fechando a 137.800 pontos
- Dólar Futuro: +2,30%, cotado a R$ 5,6115
- Dólar Comercial: +1,06%, a R$ 5,50
- Ibovespa à vista: -1,31%
- ETF iShares MSCI Brazil (EWZ): -1,81% em Nova York
A reação foi classificada por analistas como um movimento de aversão ao risco, diante da incerteza sobre o futuro da relação comercial entre os dois países.
Indústria e agro sentem o golpe
As principais associações industriais e do agronegócio manifestaram profunda preocupação com a medida. Veja algumas reações:
- CNI (Confederação Nacional da Indústria): "Não há fato econômico que justifique a tarifa. A indústria brasileira é interligada à americana e uma ruptura traria sérios prejuízos."
- Firjan: "A decisão ignora uma parceria econômica e industrial historicamente benéfica para ambos os lados."
- Abiplast (Indústria do Plástico): "A tarifa inviabiliza operações, desestimula investimentos e ameaça empregos qualificados."
- Abicalçados: "O setor exportou 40% a mais para os EUA em junho. O anúncio é um balde de água fria."
- Abiec (Carne bovina): "Questões geopolíticas não devem virar barreiras comerciais."
- Associação dos Exportadores de Suco: "Os EUA dependem do Brasil nesse setor. A sobretaxa afeta os próprios consumidores americanos."
Além disso, a Frente Parlamentar da Agropecuária alertou para os efeitos no câmbio e no custo dos insumos, prejudicando ainda mais a competitividade das exportações brasileiras.
Segundo o economista-chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, a tarifa pode reduzir o PIB brasileiro em até 0,4 ponto percentual. Ele estima que a tarifa efetiva média sobre produtos brasileiros pode subir 35,5 pontos percentuais, sendo o maior aumento em décadas.
Lula rebate: soberania e reciprocidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu com firmeza. Disse que o Brasil "não aceitará ser tutelado por ninguém" e que eventuais retaliações seguirão a Lei da Reciprocidade Econômica.
"A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo", declarou Lula.
Krugman: "maligno e megalomaníaco"
A medida de Trump também gerou críticas fora do Brasil. O economista Paul Krugman, ganhador do Nobel, publicou um artigo com o título “Programa de Proteção a Ditadores de Trump”, em que chama a ação de “maligna e megalomaníaca”.
"Trump realmente imagina que pode intimidar um país de 200 milhões de habitantes, que nem sequer depende tanto do mercado americano, a abandonar a democracia?"
Krugman afirmou que a tarifa tem fins exclusivamente políticos e seria, por si só, “motivo suficiente para um processo de impeachment”.
Caminhos possíveis
Apesar das falas duras, entidades como CNI, Amcham Brasil, Firjan e a própria FPA defendem que a melhor saída, neste momento, é a diplomacia estratégica e a intensificação das negociações bilaterais, antes de medidas retaliatórias mais drásticas.
A incerteza, porém, deve continuar dominando os próximos dias, especialmente em um contexto global em que os EUA sinalizam novas tarifas a países do BRICS e outros parceiros estratégicos.
Conselho do nosso Economista
Para Marcelo Fonseca, sócio e economista da HLB Brasil, o governo brasileiro deverá buscar soluções negociadas, sempre ouvindo os exportadores brasileiros, deve também evitar de qualquer forma qualquer ação de reciprocidade que possa atingir exportadores norte-americanos. Tudo é novo, sobretudo a forma como os Estados Unidos estão tratando de assuntos geopolíticos através da imposição de barreiras tarifárias. O momento é de reduzir ao máximo a incerteza paira hoje sobre o Brasil.