Semicondutores: falta da matéria-prima está trazendo dores de cabeça para indústrias tecnológicas

Por Marcelo Fonseca

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A indústria da transformação contribuiu negativamente para o PIB do segundo trimestre segundo o IBGE (queda de 2,2%). Problemas com a falta de insumos relacionados as dificuldades impostas pela pandemia sobre às cadeias globais de fornecimento refletem um problema que está afetando diversos mercados: a produção e distribuição de semicondutores, que são insumos utilizados na produção de eletrônicos e peças automobilísticas, não está suprindo a demanda, com impacto sobre a oferta e sobre os preços.

Utilizado como condutor de corrente elétrica, os semicondutores são utilizados como matéria-prima para a produção de chips essenciais para o funcionamento de aparelhos eletrônicos, como computadores, smartphones e, também, para a produção de automóveis.

De acordo com informações da Volkswagen, um modelo SUV de médio porte apresenta em média 300 chips e a demanda do setor cresce a cada dia, principalmente com o desenvolvimento de carros elétricos e autônomos.

A evolução tecnológica e digital, combinadas também com a chegada do 5G, demandará ainda mais da produção de semicondutores e a falta da matéria-prima pode ser um indicador dos problemas que serão impostos a este mercado, trazendo riscos para o seu futuro.

Pandemia desencadeou a crise de semicondutores

Um dos principais fatores para a falta da matéria-prima foi a pandemia da Covid-19 e a necessidade do isolamento social e o fechamento de fábricas – reduzindo assim a produção e encomendas de semicondutores utilizados na produção de veículos.

Enquanto um setor desacelerava suas demandas, outros avançavam. Com o trabalho remoto e outras rotinas que passaram a ser praticadas dentro de casa e via digital, o consumo de aparelhos eletrônicos entrou em ascendência com a produção aumentando a cada mês como resposta as exigências da pandemia que demandava que as nossas atividades fossem realizadas em nosso convívio doméstico, com isso, as encomendas de semicondutores encontraram novos direcionamentos de mercado.

Entretanto, com o avanço da vacinação e a normalização dos casos, as atividades das indústrias automobilísticas começaram a voltar e, com isso, a exigência dos componentes para a produção. Porém, já encontraram um mercado saturado em razão da alta demanda.

Outros fatores também contribuíram para esses resultados, como a embate geopolítico entre Estados Unidos e China. No ano passado, os EUA incluíram a Semiconductor Manufacturing International (SMIC) – maior fabricante de chips da China – em uma lista que restringe o acesso de empresas a tecnologias de ponta desenvolvidas no país. De acordo com a fabricante, essa ação desencadeou na redução da capacidade de produção de semicondutores.

Grandes empresas, como Huawei e Toyota também decidiram estocar a matéria-prima, o que ocasionou desequilíbrio de distribuição no mercado. Além disso, para contribuir com a dificuldade de produção de semicondutores, dois incêndios atingiram fabricantes japoneses, sendo um na fábrica da Asahi Kasei Microsystems (AKM) em outubro de 2020 e o outro em uma planta da Renesas Eletronics em março desse ano.

A segmentação de fabricantes de semicondutores localizada somente na Ásia também pode ser considerada um importante fator para a falta da matéria-prima no mercado e a dificuldade de indústrias para encontrarem novas opções de compra, principalmente se levarmos em conta que a produção desses materiais não é realizada em semanas, sendo necessário planejamento para suprir as necessidades das indústrias pelo produto.

Produção de indústrias é interrompida por falta de semicondutores

A falta da matéria-prima, atrelada a alta procura, ocasionou o aumento dos preços. Além disso, a alta do dólar e a revisão nos valores do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) – que influencia os preços dos produtos comercializados no país – podem ser indicadores que a crise está longe de acabar.

Sem conseguir os semicondutores para a produção de seus produtos, indústrias apresentam atrasos na entrega de seus produtos e estão pausando a sua produção, concedendo férias coletivas para seus funcionários.

Algumas fabricantes de veículos alemães interromperam a sua produção por falta de chips e, no Brasil, a Volkswagen decretou férias para cerca de 800 funcionários durante um período de 10 dias por falta de matéria-prima para a continuidade da produção, como foi anunciado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, através de comunicado divulgado em seu site.

Essa pausa que ocorreu no final de setembro já é o sexto período de férias coletivas realizada pela montadora somente em 2021. A Toyota também anunciou que a sua produção será suspensa entre 13 e 22 de outubro por falta de semicondutores.

Em fevereiro desse ano, a Ford anunciou que poderia perder de 10% a 20% de sua produção prevista para o primeiro semestre e 50% no segundo semestre por falta de matéria-prima. A General Motors também declarou que pode perder US$ 2 bilhões em lucro em 2021.

De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entre 100 mil e 120 mil veículos deixaram de ser fabricados durante a metade desse ano por falta de componentes.

Apesar das expectativas que os resultados melhorem nesse resto do ano e início de 2022, a falta do produto que desencadeou a crise em várias estruturas produtivas levou o alerta e a necessidade de buscar alternativas para evitar esses mesmos danos futuramente. Uma das principais mudanças deve acontecer na polarização de fabricantes na Ásia.

Empresas como a Intel anunciou a criação de uma nova unidade de negócios focada na produção de semicondutores chamada Intel Foundry Services. A expectativa de investimento gira em torno de U$ 20 bilhões para a construções de novas fábricas localizadas no Arizona – EUA.

A união Europeia também pretende investir 140 bilhões de euros no setor digital nos próximos três anos com o objetivo de produzir 20% dos semicondutores em todo o mundo.

A pandemia nos ensinou como o mercado é volúvel, sem um plano B, todas as cadeias produtivas podem ser afetadas drasticamente por estarem conectadas de alguma forma. Esperamos que o próximo ano traga resultados positivos para o setor, sobretudo por ele ocupar uma posição privilegiada na economia global e ser um dos que mais empregam atualmente – trazendo avanços que podem suprir as falhas encontradas em uma das maiores crises globais dos últimos tempos e evitar para que isso não ocorra novamente.




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