Split Payment: o que é e como vai impactar a área financeira e de tesouraria

Por Juliana Salazar 

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A reforma tributária brasileira está trazendo novidades que prometem mudar profundamente a forma como empresas lidam com seus fluxos financeiros. Entre elas, o Split Payment desponta como um dos instrumentos mais discutidos, principalmente pelos efeitos que terá sobre a liquidez, a gestão de caixa e o capital de giro das organizações.

De forma simplificada, o Split Payment é um modelo em que o recolhimento de tributos é feito automaticamente no momento da transação comercial. Isso significa que o valor da nota fiscal é “fatiado” na origem: a empresa recebe apenas a parte líquida, enquanto os impostos devidos seguem direto para o governo.

Na prática, estamos falando de uma ruptura com décadas de rotina financeira. Hoje, a maioria das empresas recolhe impostos dias ou semanas depois da venda o que permite que esse valor circule no caixa por um tempo. Com o Split Payment, essa “janela” desaparece.

Impactos na Tesouraria e Finanças

  • Redução de liquidez

O impacto mais imediato será no caixa. Imagine uma indústria que fatura R$ 10 milhões por mês e paga, em média, 20% de impostos sobre vendas. Hoje, ela recebe os R$ 10 milhões, usa o valor integral para financiar seu giro e só paga os R$ 2 milhões de tributos no vencimento. Com o Split Payment, esses R$ 2 milhões saem no ato da venda o que pode representar uma queda de até 20% na liquidez imediata.

Para setores de margem reduzida ou ciclo financeiro longo, como construção civil e agronegócio, esse corte na liquidez pode significar a necessidade urgente de buscar fontes adicionais de capital de giro.

  • Aumento do custo de capital

Com menos dinheiro disponível, cresce a probabilidade de recorrer a linhas de crédito para cobrir operações diárias. Num cenário de juros altos, isso encarece a estrutura de capital e reduz a competitividade.

Além disso, no valuation por fluxo de caixa descontado (FCD), menos caixa livre significa menor valor presente líquido e, com mais risco percebido, o custo médio ponderado de capital (WACC) tende a subir.

  • Necessidade de planejamento mais granular

O modelo exigirá projeções de fluxo de caixa mais detalhadas e em tempo real, já que o ciclo financeiro será encurtado. A tesouraria vai precisar integrar sistemas de ERP, gateways de pagamento e plataformas bancárias para acompanhar recebimentos líquidos e recolhimentos tributários simultaneamente.

 

Ganhos em Compliance e Transparência

Nem tudo é ônus. O recolhimento automático reduz significativamente riscos fiscais:

  • Menos inadimplência tributária (intencional ou por erro);
  • Fim da concorrência desleal de empresas que “ganham fôlego” postergando tributos;
  • Simplificação operacional, já que parte do processo de apuração e recolhimento será automatizada.

Do ponto de vista do governo, isso significa maior segurança na arrecadação. Do ponto de vista da empresa, menos autuações e menos energia gasta em obrigações acessórias.

 

Desafios operacionais e de implementação

A adaptação não será trivial:

  1. Integração tecnológica - ERPs terão de conversar com sistemas fiscais e bancários para identificar e processar o “fatiamento” das transações;
  2. Treinamento de equipes - Tesouraria, contabilidade e fiscal terão de entender novos fluxos e acompanhar alterações em tempo real;
  3. Gestão de múltiplos cenários - Até que o modelo seja totalmente implantado, muitas empresas terão de lidar com sistemas híbridos (parte Split Payment, parte modelo tradicional).

Para pequenas e médias empresas, o custo de adequação pode ser expressivo, tornando necessário apoio técnico ou financeiro.

 

Caminhos para Mitigação

Para reduzir o impacto sobre o caixa, algumas alternativas vêm sendo discutidas:

  • Split Payment Inteligente: compensação de créditos tributários em até 3 dias;
  • Split Payment Superinteligente: compensação imediata, em tempo real, para empresas com saldo credor.

Outra estratégia é antecipar o redesenho do capital de giro, ajustando prazos de recebimento, negociando melhores condições com fornecedores e avaliando instrumentos financeiros como o supply chain finance.

 

Cronograma e Próximos Passos

A previsão atual é de que testes comecem em 2026, com implementação ampla a partir de 2027. O modelo deve ser adotado inicialmente no B2B e, se bem-sucedido, ampliado para outros segmentos.

A tesouraria que se antecipar, simulando cenários e adaptando processos desde já, vai chegar em 2027 mais preparada. A que esperar para agir, provavelmente sentirá o peso da mudança no primeiro mês.




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