Tarifaço Trump: o que muda para o Brasil com as novas tarifas e quem escapou da lista
Por HLB Brasil
No último dia 30 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou a aplicação de tarifas de 50% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros, reacendendo preocupações sobre os impactos econômicos para diversos setores. A medida, que entra em vigor no dia 6 de agosto, veio acompanhada de uma lista de quase 700 exceções que amenizam, mas não anulam, os efeitos do chamado tarifaço.
Segundo o governo americano, a decisão tem como pano de fundo questões políticas e de segurança nacional. No entanto, o efeito mais imediato será econômico — e deve atingir diretamente a balança comercial entre os dois países.
Quem escapou da tarifa?
A lista de exceções cobre setores estratégicos tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos, especialmente aqueles com menor possibilidade de substituição por fornecedores de outros mercados. Entre os destaques estão:
- Aeronáutico: produtos como aeronaves, motores, peças e simuladores de voo foram isentos. A medida preserva contratos internacionais e evita prejuízos à cadeia de valor de empresas como a Embraer;
- Automotivo: veículos leves e peças também ficaram de fora, protegendo a competitividade das montadoras brasileiras no mercado americano;
- Energia: petróleo, carvão, gás natural e derivados foram poupados, o que evita distorções em um dos setores mais relevantes das exportações brasileiras;
- Mineração e metais: itens como ferro-gusa, alumina, ouro, prata e ligas metálicas diversas seguem livres da nova tarifação;
- Agronegócio (parcial): castanhas-do-brasil, suco e polpa de laranja, mica bruta, madeira tropical e fertilizantes foram alguns dos produtos agrícolas preservados.
Segundo a Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio), essas isenções representam 43,4% do total das exportações brasileiras aos EUA, algo em torno de US$ 18,4 bilhões em 2024.
Quem deve sentir o impacto?
Apesar das exceções, setores expressivos da economia brasileira foram deixados de fora da lista e devem enfrentar consequências significativas:
- Café: o Brasil exportou quase US$ 2 bilhões em café para os EUA em 2024. A nova tarifa deve reduzir margens e aumentar os preços ao consumidor americano;
- Carne bovina: com US$ 1,6 bilhão em exportações e os EUA como segundo maior mercado, o setor prevê perdas e redução de receita, especialmente para empresas sem operação local;
- Frutas: produtos como manga, uva, açaí e abacaxi enfrentam aumento de custo e possível queda na competitividade;
- Têxteis e calçados: sem isenções significativas, ambos os setores já enfrentam forte concorrência internacional e agora tendem a acumular estoques e ver redução nas exportações;
- Móveis: exceto por artigos específicos para uso aeronáutico, o setor de móveis também entra na lista dos atingidos.
Um impacto político e econômico
Além da tensão comercial, o tarifaço tem forte componente político. Em comunicado, a Casa Branca acusou o governo brasileiro de promover perseguições políticas e ameaçar o Estado de Direito — o que motivou não apenas as tarifas, mas também sanções a autoridades brasileiras.
Apesar do tom grave, economistas e instituições brasileiras avaliam que as isenções limitaram os danos. A estimativa inicial da Federação das Indústrias de Minas Gerais previa uma queda de 1,49% no PIB e perda de 1,3 milhão de empregos caso todos os produtos fossem tarifados. Com as exceções, esse impacto deve ser significativamente reduzido, mas ainda real.
O governo brasileiro anunciou que manterá um plano de contingência para os setores afetados. E o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, classificou o novo cenário como "menos grave, mas ainda preocupante".