Vilões da inflação de 2021 e o que esperar para 2022

Por Marcelo Fonseca

Image

O resultado do IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – trouxe preocupação ao mercado financeiro ao apresentar o indicador acima de dois dígitos, encerrando 2021 a 10,06% e acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%.

Sendo o maior indicador em seis anos, os dados foram divulgados no dia 11 de janeiro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As expectativas para 2021 eram uma variação da inflação de 2,25% até o limite máximo de 5,25%.

Para dezembro os analistas de mercado esperavam uma alta de 0,65%, sendo a taxa encerrada em 0,73% e apresentando uma desaceleração em relação a registrada em novembro que fechou em 0,95%.

Nos dados divulgados pelo IBGE, o grupo Transportes liderou com o maior peso no resultado da inflação, compondo variação de 21,03% e um impacto de 4,19 p.p durante o ano de 2021. Habitação (13,05%) e Alimentação e Bebidas (7,94%) seguiram atrás do primeiro do grupo, respondendo os três, cerca de 79% do IPCA de 2021.

Os vilões da inflação

Durante o ano, alguns produtos e serviços pesaram mais no bolso dos brasileiros, não sendo difícil de adivinhar os aspectos que se fizeram presente nos dados divulgados pelo Instituto. Dentro da categoria transportes, o principal fator do aumento encontra-se no combustível e os constantes reajustes nas bombas – durante o ano a gasolina acumulou alta de 47,49% e o etanol subiu 62,63% também influenciado pela produção de açúcar, como pontuou em nota o gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pedro Kislanov.

Brasileiros também encontraram dificuldades na compra de carros com o aumento dos preços de automóveis novos e usados. O IBGE aponta que esse fator foi outro vilão do grupo transporte, com os preços dos carros novos (16,16%) e usados (15,05%) sendo impactados pelo desarranjo na cadeia produtiva do setor automotivo em razão da pandemia e instabilidade na demanda global e produção de peças.

Outro inimigo conhecido dos nossos bolsos é a energia elétrica, com aumento de 21,21% ao longo de 2021, em razão da crise hídrica que assolou o Brasil durante o ano. O botijão de gás

também foi outro que contribuiu para os resultados, com alta de 36,99% - os dois fazem parte do grupo Habitações que ocupa o segundo lugar no peso da inflação.

A alta de commodities e a desvalorização do real frente ao dólar foram, também, aspectos importantes para os dois dígitos no resultado da inflação 2021.

Vilões da inflação, os fatores destacados prejudicaram sobretudo a população mais pobre, como indica o índice de Preços ao Consumidor (INPC) ao divulgar que o resultado do rendimento das famílias que ganham de 1 a 5 salários-mínimos ficou em 10,16%, acima da inflação oficial.

Inflação global

Apesar de o aumento da inflação e a alta dos preços serem um problema global, o índice divulgado pelo IBGE coloca o Brasil entre os países com taxas mais altas no mundo, ocupando o terceiro lugar entre os países do G20, ficando atrás somente da Argentina (51,2%) e da Turquia (21,3%), de acordo com o relatório divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A média da inflação dos países pertencentes ao G20 ficou em 5,9% no acumulado em 12 meses até novembro.

Estouro da meta e carta do Banco Central

Desde setembro o Banco Central já havia admitido que a meta de inflação não seria cumprida em 2021 e com qualquer alteração na meta, o BC tem que prestar esclarecimento sobre os fatores que levaram aos resultados.

A última vez que esse evento ocorreu foi em 2017, quando o Banco Central teve que explicar por que a inflação terminou o ano abaixo do piso da meta, e não acima. Lembrando que a meta da inflação é determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e para alcançá-la, o BC eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia.

Após a divulgação do IPCA nesse mês, o Banco Central encaminhou a carta assinada pelo seu presidente, Roberto Campos Melo, e pelo procurador-geral do BC, Cristiano Cozer, elencando que o aumento se deve aos pontos que já abordamos nesse artigo, como a bandeira de energia elétrica, o preço das commodities e os conflitos nas cadeias produtivas globais.

No texto, eles explicam que “as pressões sobre os preços de commodities e nas cadeias produtivas globais refletem as mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens e impulsionada por políticas expansionistas”.

A carta acrescenta ainda que “as cadeias produtivas globais acrescentaram importantes gargalos ao longo de 2021, como esgotamento de estoques de insumos, escassez de semicondutores e aumentos de prazos de entrega e de preços dos fretes internacionais”. O texto continua que com as mudanças no padrão de consumo causados pela pandemia e retomada econômica, causaram aumento da procura por bens industriais ao mesmo tempo que a oferta não reagiu em tempo e ritmo suficiente para atender às novas demandas.

E em 2022, como fica?

Até o momento, a previsão do mercado em 2022 está em 5,03%, com expectativa de novo estouro do teto do sistema de metas pelo segundo ano seguido.

O IPCA também colocou como meta central deste ano em 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar entre 2% e 5%. A taxa Selic também apresenta maior patamar em mais de quatro ano, com 9,25%.

A atenção também está voltada para a resposta dos bancos centrais nas economias avançadas que têm de lidar com fenômeno inflacionário, que ao que tudo indica, não será transitório. O Federal Reserv - autoridade monetária dos Estados Unidos, já sinalizou que pretende iniciar o aumento da taxa básica de juros como forma de responder ao aumento persistente dos preços. Este movimento poderá causar alguma turbulência no câmbio no Brasil, dificultando a tarefa do Banco Central de controlar a inflação. O ano eleitoral também não ajuda, propostas de candidatos que não agradem ao mercado podem turbinar a desvalorização cambial.

Se o remédio para estes prognósticos é a manutenção da SELIC em território contracionista por tempo excessivo, todos sairemos perdendo.






Image
Entre em contato!
Qualquer dúvida, estamos à disposição para ajudá-lo.
Contate-nos

Confira nossos artigos